
Zeus trágico: ensaios sobre poesia e racionalidades
Abah Andrade
O trágico seria concebido como um limite. Além dele, ninguém segue sem se dilacerar, como sói acontecer dentro da experiência dionisíaca, onde a “loucura se torna um fim em si mesmo”. Aquém, toda manifestação cultural pode ser vislumbrada como uma forma possível de conjurá-lo. Isso justamente porque o trágico seria o limite do humano, não sua condição; seria aquele limiar que separa o “ser” humano (o antropos) do divino (theós), ou que força e forja o divino a partir do que se justificam os ritos, os mitos e toda a dimensão da magia e da religiosidade, enquanto tentam aproximar o humano do humano ao se ensaiar uma aproximação/distanciamento do humano com o divino. Em uma palavra: aquilo que os antropólogos chamam de “cultura” existe não apenas como resultado da busca por se preservar na existência, mas a própria preservação da existência humana enquanto humana pressupõe um confronto com um limite renitente a que se pode chamar “o trágico”, contra o qual a dimensão religiosa desponta como realidade eminente, ao lado da arte e da filosofia, da política e da psicologia. Esse conceito de trágico como limiar do divino é a contribuição original que esses ensaios trazem ao leitor.
