Rios de palavras: a imprensa nas periferias da Amazônia (1821-1921)
Luís Francisco Munaro (Org.)
Na região amazônica, onde o letramento foi uma prática bastante tardia, a história da palavra impressa permaneceu um aspecto secundário na historiografia. Os recursos orais foram vistos como capazes de levar a uma compreensão mais completa da sociedade fortemente marcada por culturas ainda exteriores ao papel impresso. Contudo, mesmo como expressão da elite e para a elite, o jornal amazônico contém indicativos importantes sobre o funcionamento da sociedade nos séculos XIX e XX. Ele revela, em geral, o anseio de elites recentes, resultantes da interiorização do aparelho administrativo do Estado na Amazônia, em estabelecerem um dizer-suporte sobre si mesmas, configurarem um espaço de aparição, uma esfera pública embrionária, demonstrando, por um lado, sua capacidade de organização política, por outro, sua capacidade de autocontrole e construção de civilização em meio ao sertão. Os jornais apresentados ao longo de todo o esforço de construção deste livro intitulam-se ilhas de modernidade. Essa importância atribuída a si mesmos revela o tamanho do empreendimento que significava a importação de uma máquina de tipos, o estabelecimento de uma proposta editorial, o pleiteio de apoios políticos e a busca pelas notícias. Em boa parte dos casos, a atividade editorial e jornalística era uma atividade fundamentalmente política: o jornal surgia em conjunto com o município (a maior parte deles no final do século XIX), era parte constituinte da burocracia e atendia, ainda que sob a égide da imparcialidade, os interesses de um prefeito que era, também ele, parte de uma elite recente que buscava a própria significação.
ISBN: 978-85-5696-108-2
Nº de pág.: 259