Regras para o parque lacaniano, contraintes do discurso psicanalítico
Estanislau Alves da Silva Filho
Desde que Lacan circunscreveu o “discurso analítico” em seu Seminário 17, sobre o avesso da psicanálise, muitos trabalhos se dedicaram ao estudo e ao esclarecimento deste epíteto, doravante, tido como medular à prática freudiana. Entretanto, cem mil confusões se criaram entre o psicanalítico e o lacanês, entre o lacanismo e o sofístico, entre o ético e o clínico (entre o estílico e o etílico). Não de graça, ficou difícil destacar o peculiar do discurso analítico, com relação ao científico ou ao artístico, por exemplo, e mais duro ainda circunscrever o que seria da ordem de um laço psicanalítico, o laço social decorrente do e inerente ao discurso analítico, sem se delimitar ao dito ‘dispositivo’ da relação do setting de atendimento tradicional. Mas seria de interesse dissolver tais confusões? Ou poderia ser útil buscar incrementá-las? Certamente, a mistura do discurso lacaniano ao cerne da prática freudiana vem rendendo amplo campo de trabalho e fórum de discussões, alargando e problematizando os limites e os traços distintivos da Coisa e da Causa, isto é, da Cousa. Mais humildemente, se poderia tentar destilar dimensões do procedimento analítico desde Lacan, através de pontual análise de algo da sua forma de “teorizar”, de algo da dinâmica de sua “institucionalização” e algo de seu modo peculiar de se relacionar com a verdade. E é esse o intuito aqui almejado, no que se propõe a percorrer ensaios que tematizariam respectivamente (entre mais), a tautologia – base da forma de Lacan –, o grupo e o laço social – na instituição de Lacan e para além – e a sofística – com a expectativa de que o pareamento desta última com a psicanálise sirva de elucidação no tocante ao funcionamento do discurso analítico e seus efeitos, em intensão e extensão. Ao final destes, uma precipitação se espera, na aparência de uma depreensão do que veio antes, mas na constituição de uma síntese proponente das restrições que um discurso analítico impõe enquanto “regras” de um jogo do qual não se pode sair impune.
Nº de pág.: 366
ISBN: 978-65-5917-224-5
DOI: 10.22350/9786559172245