Ensaios sobre a Depressão: a perda de sentido de si e o mal-estar na sociedade contemporânea
Fabio Caprio L. de Castro; Cristian Marques (Orgs.)
A noção de que as psicopatologias não estão circunscritas a meras disfunções orgânicas não é nova. Um dos principais fundadores da psiquiatria moderna, Jean-Étienne Esquirol (1772-1840), já afirmava que a loucura era uma “doença da civilização” em sua tese de medicina em 1805. Porém, esse entendimento está em franca tensão contemporaneamente com outra maneira mais hegemônica de entender as enfermidades humanas, sobretudo as de ordem psíquica. Com o avanço das ciências cognitivas, da neurologia e de dispositivos normativos com influência global, tal como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o discurso farmacológico, biologizante e naturalista tem reduzido diversas patologias a somente sua condição orgânica. Que tal discurso se tornou hegemônico não é fortuito. Desde a tão propalada “década do cérebro” nos anos 1990, viu-se um volume de investimentos públicos e uma aposta generalizada – e até uma promessa – de que poderíamos resolver os problemas do sofrimento metal dominando os processos bioquímicos cerebrais. Entretanto, passados praticamente 30 anos, as enfermidades mentais agravaram-se epidemicamente e o modelo naturalista mostrou-se insuficiente para compreender as enfermidades psíquicas. Dentre essas enfermidades psíquicas, a depressão tem despontado como uma espécie de novo mal du siècle, porém sem a dimensão romântica e carregada de esgotamento. Os ensaios aqui reunidos resistem ao discurso patológico contemporâneo tentando mostrar diversos aspectos desse sofrimento psíquico comumente chamado de depressão. A compreensão que perpassa de modo geral os ensaios é de que a depressão não se deixa reduzir ao neurológico, mas, antes, é simultaneamente emblema da atualidade de um problema civilizatório e sintoma social. Assim, trata-se de compreender aspectos tanto do fenômeno doentio quanto de como a articulação com as exigências, propostas e demandas sociais têm impacto direto nesse fenômeno. Colocada nesses termos, trata-se de uma questão que não perdeu o caráter provocador tanto quanto de urgência, dado o caráter demograficamente preponderante do problema.
ISBN: 978-85-5696-639-1
Nº de pág.: 278