A filosofia africana e os Manuscritos de Timbuktu
Tarcísio Afonso Tchivole
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TCHIVOLE, Tarcísio Afonso, “A filosofia africana e os Manuscritos de Timbuktu” (última versão de junho de 2024), Enciclopédia da Filosofia Brasileira, editada pelo Grupo de Trabalho em Pensamento Filosófico Brasileiro. Disponível em <https://www.editorafi.org/enciclopedia-da-filosofia-brasileira> DOI https://dx.doi.org/10.22350/2023efb
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Vindo de Angola, ao me deparar com a Filosofia Africana no Brasil, percebi uma significativa disparidade entre a compreensão acadêmica brasileira e o conhecimento que eu já possuía sobre o tema, o que gerou um constante estranhamento. Diálogos frequentes com pesquisadores brasileiros, ressaltaram a importância de demonstrar que a preser-vação e a transmissão do conhecimento africano, muitas vezes associado exclusivamente à oralidade ou a uma ancestralidade desvinculada de registros, precisa ser revista em razão da riqueza de material escrita e documental. Nesse contexto, os manuscritos de Timbuktu e a literatura sobre o tema emergem como uma das formas de testemunhos cruciais dessa abundância intelectual, destacando a profundidade e a sofisticação da herança cultural africana. Vejamos.
A presente pesquisa se propõe investigar a importância dos manuscritos preservados em Timbuktu, Mali, para o estudo da Filosofia Africana (doravante, FA). Este campo de estudo tem despertado um interesse crescente nas últimas décadas devido à sua capacidade de oferecer uma perspectiva única sobre as tradições intelectuais e filosóficas do continente africano. Nesse contexto, os manuscritos de Timbuktu surgem como uma fonte valiosa e ainda pouco explorada no Brasil, que pode fornecer entendimento significativos sobre as concepções filosóficas, éticas e metafísicas das sociedades africanas antigas.
A hipótese que guia essa leitura é que a marginalização histórica da tradição manuscrita na África Subsaariana, especialmente em Timbuktu, resultou em abordagens insuficientes e lacunas na apresentação da História da Filosofia Africana entre os pesquisadores da área, tendo, no entanto, esta situação se altera-do um pouco nos planos africano e mun-dial, depois que o Google disponibilizou o rico acervo em arquivos eletrônicos. Mas as lacunas e a ignorância ainda per-sistem largamente e essa situação tem levado à responsabilização indevida atribuída à suposta ausência de escrita e à predominância da tradição oral, desco-nsiderando a longa tradição escrita exis-tente, e como tal, demarcando e simplificando erroneamente a gênese científica da FA a partir do século XX ...