O Essencialismo de Ismael Nery
Bernardo Brandão
Como citar este verbete:
BRANDÃO, Bernardo, “O essencialismo de Ismael Nery” (última versão de outubro de 2024), Enciclopédia da Filosofia Brasileira, editada pelo Grupo de Trabalho em Pensamento Filosófico Brasileiro. Disponível em <https://www.editorafi.org/enciclopedia-da-filosofia-brasileira> DOI https://dx.doi.org/10.22350/2023efb
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Ismael Nery nasceu no Pará, em 1900. Quando tinha 9 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes a partir de 1917 e, em 1920, frequentou, por alguns meses, a Académie Julian, em Paris, a mesma em que esteve Tarsila do Amaral. Começou a trabalhar, em 1921, como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional. Foi lá que conheceu o poeta Murilo Mendes, que se tornou um de seus grandes amigos. Casou-se com Adalgisa Nery em 1922. Em 1929, foi diagnos-ticado com tuberculose, internando-se, por dois anos, no Sanatório Correas, em Petrópolis. Em 1934, com 33 anos, faleceu em decorrência da doença.
Sua pintura, que sofreu influência das tendências de vanguarda da época, costu-ma ser dividida em três fases: a expressi-onista (1922-1923), a cubista (1924-1927) e a surrealista (1927-1934). Ela não deixa de manifestar, no entanto, um profundo estilo pessoal. Segundo Jorge Burlamaqui (1934), “a grande produção artística deixada por Ismael obedece a um conjunto filosófico gerado de um pensa-mento constantemente preocupado com o absoluto, o essencial e com a unidade”. Esse “conjunto filosófico” foi batizado por Murilo Mendes de essencialismo.
A influência do essencialismo se estendeu para além da pintura e poesia de Ismael, manifestando-se também em poemas de Murilo Mendes publicados em livros como Poemas (1931), Tempo e Eternidade (1935), Os Quatro Elementos (1935), A Poesia em Pânico (1937), O Visionário (1941), As Metamorfoses (1944), Mundo enigma (1945) e Poesia e liberdade (1947), bem como em sua prosa em O Discípulo de Emaús (1945) e A Idade do Serrote (1968); na obra de Jorge de Lima – A Túnica Inconsutil (1938) e Invenção de Orfeu (1968); e de Adalgisa Nery – por exemplo, em Poemas (1937) e no romance A Imaginária (1959).
A pesquisa sobre o essencialismo tem, no entanto, suas dificuldades particula-res. Com efeito, Ismael Nery não nos deixou nada de substancial escrito sobre o tema. Tudo o que temos é uma pequena nota sobre a aplicação da filosofia à arte e à formação do artista, que foi publicada em 1935, no Boletim de Ariel, e algumas linhas perdidas nas Recordações de Ismael Nery. Ele nunca se preocupou em divulgar seu pensamento e costuma dizer que, ...