Ensaios (marginais) sobre a confiança
Organizadora
Fernanda Canavêz
A proposta de trocar ideias/afetos sobre a confiança tinha surgido da constatação de que nós, trabalhadoras e trabalhadores da Universidade e do campo psi, temos a prática de coletivizar diagnósticos sobre o mal-estar que nos assola, muito embora sejamos marcadamente individualistas ao procurar destinos menos mortíferos em resposta às nossas análises de conjuntura. Em foro íntimo, trocamos figurinhas sobre nossas dificuldades para amar, frustrações e a sensação de desamparo diante de certa nostalgia das instituições: do casamento ao Estado de bem-estar social que ainda parecem povoar, com força, nosso imaginário. O individualismo que nos especializamos em criticar parecer ser exatamente a tônica de que lançamos mão para nos desembaraçar dos dilemas colocados pelo neoliberalismo. E assim permanecemos na circularidade da mistura explosiva entre propriedade privada, familialismo, amor romântico, produtivismo, combinação a repousar em banho-maria no caldo da desconfiança. É com pesar que nos sentimos mais próximos do sujeito empreendedor de si, desconfiado e arredio, do que nossos livros e artigos podem fazer acreditar. Haja ato de fé, "na fé firmão".